O Angkor
Wat, ou “cidade templo”, em sânscrito, pertence ao conjunto de templos
construídos na zona de Angkor, a antiga capital do Império Khmer. Erguido em
cima de um fosso, com suas cinco torres em forma de flor de lótus, o Angkor Wat
é maior que qualquer catedral medieval e sua altura é duas vezes maior que a
torre de Londres, compreendendo um dos maiores projetos de engenharia da
história da humanidade (não somente pelo seu tamanho, mas também por ter sido
erguido em cima da água).
Construído
em meio à floresta Cambojana e edificado inicialmente pela influência da
religião hinduísta, o Angkor Wat foi, durante séculos, habitado somente por
monges budistas. Além disso, no local foram encontradas ainda mais de mil ruínas
de templos com vários tamanhos e estilos, legítimas obras primas da arquitetura
Khmer. Muitos desses templos nasceram como templo hinduístas mas foram perdendo
essa característica com o crescimento da religião budista. Cada construção
simboliza uma ponte entre o mundo terreno e o mundo celestial, através da conexão
que homens buscavam junto aos deuses, naquele período. Contudo, o Angkor Wat é
o mais imponente e famoso, sendo considerado o maior monumento religioso e relíquia
arqueológica do mundo. Pretendendo impor o seu poder como de um legítimo rei,
Suryavarman II, no começo do século XII, orientado por seus súditos e conselheiros, iniciou a construção do templo para provar
ser o escolhido pelos Deuses para reinar, através de sua arquitetura e a arte.
Aliás, construir um templo é uma das formas que os reis Khmer constumavam
demonstrar seu poder, razão pela qual existem mais de 600 templos espalhados
pelo Camboja.
21 de dezembro de 2013. As 5 da manhã eu
já estava na recepção para encontrar o motorista do tuk tuk que me levaria ao
Angkor Wat. Havia fechado o transporte de tuk tuk na própria recepção do hostel
no dia anterior pelo valor de 20 U$, que incluía o motorista com o tuk tuk o
dia inteiro à minha disposição. Achei meio caro para os padrões cambojanos, mas
acabei fechando com o próprio pessoal do hostel mesmo. Às 5 da manhã em ponto a
cozinheira do hotel me aguardava na recepção com um sorriso sincero e
carismático, e foi aqui que as minhas primeiras más impressões cambojanas
começaram a ser desarmadas, marcando o começo em que aquele país começava a
quebrar as minhas pernas.
Aquela mulher humilde carregava uma
sacolinha plástica que continha dentro uma garrafa de água e um marmitex de
isopor com meu café da manhã (ovos mexidos, manteiga, geléias e torradas), que
vieram acompanhados do seu sorriso e olhar que não deixavam dúvidas de que
aquele café da manhã fora preparado com o maior carinho do mundo. O hostel
estava vazio naquele horário, ainda era madrugada. A maioria dos turistas
espera o dia começar a clarear para ir ao Angkor e como eu fazia questão de ver
o sol nascer no templo, pedi ao motorista que me buscasse bem cedo para não
correr o risco de perder o espetáculo. Percebi que a cozinheira havia levantado
da cama somente para fazer meu café da manhã para que eu não ficasse sem comida
por muito tempo, e eu nem havia pedido nada daquilo na recepção do hostel. O
carisma dela estampava ternura, boa vontade e coração aberto em um gesto que,
apesar de simples, permitiram que eu pudesse enxergar sua alma através de seus olhos. Eu contando
sei que pode parecer meio nada a ver, mas aquele momento teve um valor inestimável para mim. Não
resisti e dei um abraço de gratidão naquela mulher. Em tempos como estes onde
as pessoas mal se olham nos olhos, agradeci muito aquele gesto de carinho vindo
de uma desconhecida.
Ingresso na mão, você entra no seu tuk-tuk
novamente e ele vai te levar em cada um dos templos espalhados pelo gigantesco
complexo Angkor. O local é de um tamanho absurdo, impossível de se percorrer a
pé. A melhor forma é sem dúvidas contratando um tuk-tuk que fique o dia inteiro
a sua disposição pois a distância entre os templos é grande. Alguns se aventuram a
conhecer o local de bicicleta, mas eu não aconselho, a menos que você esteja em
perfeita forma física, pois irá pedalar horrores. Passei o portão de entrada e
meu motorista me levou até a porta do templo principal das 5 torres, local da
vista clássica do nascer do sol dos cartões postais Cambojanos. Muito
importante: se você como eu não abre mão de ver o nascer do sol no local, terá
que chegar lá ainda de madrugada, portanto, leve uma lanterna
boa. A escuridão predomina no lugar que não possui energia elétrica, sem
contar os caminhos de pedra e escadas que você tem que subir e descer até
chegar ao local da vista. Minha lanterna de led me salvou e salvou mais um
grupo de turistas desavisados que me seguiam tentando não cair no meio da
multidão. E vá rápido, pois na beira do pequeno lago que se forma na frente do
templo principal fica um aglomerado de turistas e fotógrafos com tripés e câmeras
profissionais, todos disputando um lugar estratégico para levar a foto perfeita
para casa.
Levou alguns minutos até que eu achasse
um lugarzinho no meio da galera em que minha altura de 1,60m me permitisse
enxergar. Por volta das 6 da manhã o espetáculo começa devagar e o céu escuro
começa a ser desenhado por luzes, que fazem surgir algumas manchas azúis, cinzas e roxas. E ao longo dos próximos minutos, o azul marinho foi dando lugar ao azul
mais claro, o cinza trazia o amarelo e o roxo se transformava em rosa e
alaranjado. Não tenho a menor dúvida de que foi o nascer do sol mais lindo que
já assisti em toda a minha vida. Na medida em que amanhecia, os raios solares
tocavam as ruínas e refletiam de volta toda a energia sagrada e a história
daquele templo. A única palavra que dominava meus pensamentos era “gratidão”.
Se eu tivesse nascido somente para ver aquela cena e depois tivesse que ir
embora, já teria valido a pena minha existência.
Com o dia já claro, a multidão de
turistas se dispersava para dentro dos templos e o local ficava mais vazio. Minha barriga estava roncando, quando então fui até as barraquinhas de comida que ficam
ali perto bem ao lado do templo. Sim, se você não tiver uma marmitinha feita
com amor e carinho por uma cozinheira misteriosa não se preocupe, hahaha,
dentro do Angkor existem várias opções de lanches e café da manhã. Pedi um
chocolate quente para complementar meu kit breakfast e matei o que estava me
matando. Barriga cheia, pé na areia.
Antes de iniciar o tour dentro dos
templos, me sentei na beira do pequeno lago para aproveitar um pouco mais
aquele cenário. Milhares de flores de lótus rosadas desabrochavam de dentro da
água e completavam a beleza e sublimidade do lugar. Dei a volta no pequeno
lago, no ponto onde era possível ver as flores mais de perto e observei vários
macaquinhos que brincavam por ali, mordiscando as flores e buscando pedaços de
comida. A natureza em sua forma mais sublime e bela. Eu passaria horas ali
tranquilamente apenas observando aquilo.
(Flores de lótus e macaquinhos)
(Flores de lótus ao meu redor)
(Mais lótus)
O sol já estava trincando. Comprei mais 2
garrafas de água e me dirigi para dentro do templo principal. O local é
riquíssimo em beleza, cultura e história. O sol iluminava cada pedra e a
sensação de paz e felicidade tomavam conta de tudo. O local realmente tem uma
energia indescritível. Impossível estar lá e não agir como uma criança perdida
olhando para todos os lados de boca aberta.
(Angkor Wat)
(Uma das entradas de Angkor Wat)
(Ruínas)
(Escadarias)
(Crianças Cambojanas)
Diversos desenhos e esculturas nas
paredes de pedra do templo que remetiam a toda a história do império Khmer, e
de toda a construção do Angkor Wat. Aliás, antes de visitar os templos você
deve pelo menos ler um pouco a respeito de como e porque o Angor Wat foi
construído, para melhor entender o lugar. Há também muitos documentários no
youtube. Recomendo o da National Geografic, acredito que é um dos melhores.
(Esculturas de Apsaras nas pardes de pedra do Angkor Wat)
(Riqueza de detalhes)
(Desenhos nas paredes)
É possível ainda subir na torre principal
do Angkor, porém, por ser considerado lugar sagrado, é necessário cobrir
joelhos e ombros para adentrar na referida torre.
(Torre principal, do lado de fora)
(Torre principal, do lado de dentro)
(Mais esculturas e desenhos nas paredes)
(Escadas que levam à torre principal)
(Vista de cima da torre principal)
Saí do templo das 5 torres e fui
encontrar meu motorista e o seu tuk-tuk na entrada. Os tuk-tuks ficam todos aglomerados
na porta, aos montes mesmo, achei que seria impossível encontrar meu motorista
denovo. Após alguns minutos de procura, não sei como mas ele me achou e
seguimos para o próximo templo, o Bayon. Aqui, a dica é anotar a placa do seu
tuk-tuk, nome do motorista e tentar ao máximo memorizar o rosto dele para não
correr o risco de perdê-lo e ficar a pé (missão quase impossível pois eles são muito parecidos entre si! Hahaha)
Na porta do Bayon era possível andar de
elefantes pelo valor de 15 U$ ou 25 U$ (não me recordo o valor correto), bem
como tirar fotos e alimentá-los com abacaxi (e eles comem um abacaxi inteiro de
uma vez!).
(Elefantes uniformizados e elegantes)
(E agora, como vou partir um pedaço para dar a ele?)
(Não precisa, ele engole inteiro e com a a coroa inclusive, hahaha)
(Passeando no grandão)
O Bayon é um dos principais templos da
região, construído originalmente com 49 torres esculpidas com 4 faces de buda
cada uma delas, cada face virada para um ponto cardeal. Em razão das
transformações sofridas ao longo dos anos, hoje restam apenas cerca de 37
torres e algumas possuem apenas 2 ou 3 faces visíveis. Um templo que
impressiona pela riqueza de detalhes, pela quantidade de budas “olhando para
você” e pelos seus labirintos internos.
(Entrada do Bayon, parte da frente)
(Bayon e suas multi facetas 1)
(Bayon e suas multi facetas 2)
(Mais Budas sorridentes)
(Parte de trás do Bayon)
Atravessando o Bayon, na parte de trás
dele (imaginando uma linha reta), encontrei um pequeno altar cheio de
ornamentos, embaixo de uma sombra fresca, onde dois monges realizavam suas
orações diárias. Meio sem jeito e não querendo atrapalhar, me aproximei e fui
recebida com sorrisos. Pedi para tirar uma foto e em seguida, um
deles colocou em meu braço uma pulseira benta, em um pequeno ritual de orações
realizadas no momento. Deixei uma doação de um dólar na bandeja escrita “donations”
e parti agradecida. Mesmo sabendo que a pulseira e todo o ritual são feitos
para todos os turistas na espera de alguma retribuição em dinheiro, é
impossível não olhar a pulseira que ainda está intacta no meu braço e não
recordar da paz e energia imensuráveis daqueles dias.
(Saída do Bayon na parte de trás)
(Passeando ao redor do Bayon)
(Altar Budista na parte de trás do templo)
(Monges)
(Monges atando os nós das pulseirinhas com orações)
Deixei o Bayon, explorei outras ruínas e
templos e depois fui ao Ta Phrom, o famoso templo onde as raízes das
arvores crescem por cima das ruínas, cenário percorrido pela Angelina Jolie na
gravação do filme Thomb Raider.
Meu motorista me deixou na entrada, de onde era encessário percorrer a pé uma pequena entradinha de areia cercada de árvores para chegar às ruínas do templo. No meio desse caminho, encontrei um conjunto de músicos que tocavam uma canção linda, com instrumentos rústicos feitos de madeira e galhos, e vendiam um CD com a coletânea de suas obras primas. Escutei aquele som puro de longe, diferente e envolvente, e fui me aproximando devagar, apreciando muito aquela melodia. Quando cheguei perto, observei o “pequeno” detalhe que me deixou de boca aberta. Todos autores daquela música de tamanha perfeição possuíam algum tipo de deficiência. Um era cego, outro não tinha braço, e por aí vai. Mais marcas deixadas pela guerra. Impossível não se questionar o tamanho da nossa insignificância quando nós mesmos colocamos obstáculos em nossos próprios caminhos na vida, e quando passamos a chamar qualquer dos nossos sonhos ou metas de “impossível”. Há uma semana atrás eu me queixava da minha vida profissional que não andava do jeito que eu queria, me preocupava se meus sapatos estavam combinando com minhas bolsas e se a minha maquiagem não estava borrada. O tapa na cara dado pelo choque de realidades doeu, mas ensinou e ainda tem ensinado bastante. O que realmente precisamos para sermos felizes¿
Meu motorista me deixou na entrada, de onde era encessário percorrer a pé uma pequena entradinha de areia cercada de árvores para chegar às ruínas do templo. No meio desse caminho, encontrei um conjunto de músicos que tocavam uma canção linda, com instrumentos rústicos feitos de madeira e galhos, e vendiam um CD com a coletânea de suas obras primas. Escutei aquele som puro de longe, diferente e envolvente, e fui me aproximando devagar, apreciando muito aquela melodia. Quando cheguei perto, observei o “pequeno” detalhe que me deixou de boca aberta. Todos autores daquela música de tamanha perfeição possuíam algum tipo de deficiência. Um era cego, outro não tinha braço, e por aí vai. Mais marcas deixadas pela guerra. Impossível não se questionar o tamanho da nossa insignificância quando nós mesmos colocamos obstáculos em nossos próprios caminhos na vida, e quando passamos a chamar qualquer dos nossos sonhos ou metas de “impossível”. Há uma semana atrás eu me queixava da minha vida profissional que não andava do jeito que eu queria, me preocupava se meus sapatos estavam combinando com minhas bolsas e se a minha maquiagem não estava borrada. O tapa na cara dado pelo choque de realidades doeu, mas ensinou e ainda tem ensinado bastante. O que realmente precisamos para sermos felizes¿
(Músicos cambojanos)
Depois do imponente nascer do sol atrás
das torres do Angkor, esse é sem dúvidas o templo mais impressionante do lugar.
Infelizmente, o local está um pouco mais deteriorado do que as fotos que encontramos
no google. Várias partes e caminhos interditados pelo desmoronamento de pedras
e muros das ruínas. Nem assim, o local perde sua característica exótica e
peculiaridade. Lindo demais e impressionante.
(Árvore sobre as ruínas do Ta Phrom)
(Turistas ao redor dos suportes construídos para sustentar as raízes das árvores)
(Raízes e galhos que nasceram dando perfeita moldura a uma das portas de entrada do Ta Phrom)
(Raízes gigantescas 1)
(Raízes gigantescas 2)
Saindo do Ta Phrom, finalizei a jornada
de templos no Phnom Bakheng, onde a intenção era ver o pôr-do-sol, que
infelizmente ficou só na intenção. Eram 3 horas da tarde, eu estava
completamente quebrada de cansaço o que juntou ao fato de o sol ter ido embora
e o tempo estar nublado. Eu teria que esperar mais umas 3 horas
para ver um pôr do sol que provavelmente não chegaria nem na unha do dedo
mindinho do nascer do sol que eu já havia presenciado naquele dia.
E eu ainda tinha a minha saga em busca da tatuagem cambojana a iniciar, pois no dia seguinte pela manhã partiria de volta à Bangkok. Mas essa história, os perrengues e apuros que passei em busca da bendita tattoo serão assuntos para o próximo post. Ainda assim, o local vale a visita pois em cima desse templo é possível ver o Angkor Wat de longe e escondido entre as árvores.
E eu ainda tinha a minha saga em busca da tatuagem cambojana a iniciar, pois no dia seguinte pela manhã partiria de volta à Bangkok. Mas essa história, os perrengues e apuros que passei em busca da bendita tattoo serão assuntos para o próximo post. Ainda assim, o local vale a visita pois em cima desse templo é possível ver o Angkor Wat de longe e escondido entre as árvores.
(Em cima do Phnom Bakheng)
(Dando uma relaxada depois da subidinha cansativa)
(Vista de cima do Phnom Bakheng: Angor Wat escondido na floresta)
OBS.: O passeio de um dia pelos templos
valeu muito a pena, porém não é possível conhecer nem um terço do que o local
guarda de belo. Apesar de um único dia ter sido muito cansativo, se você é
amante nato da cultura local e religião hinduísta eu aconselharia investir no
passe de 3 dias, e explorar o lugar com bastante calma para desfrutar da
riqueza dos detalhes que ele abriga. Algo que com certeza já está incluído no
meu roteiro de retorno ao Camboja. Leve bastante água durante o tour, e não
esqueça de um casaco. Lanches na bolsa como barrinhas de cereais e snacks
também são uma ótima pedida. Se possível, leve uma bateria extra para sua
câmera e vá com bastante espaço em seu cartão de memória. Você não vai se
arrepender.
Espero ter ajudado!
Abraço =)
incrível!!! Muito legal seu relato e as fotos!!!
ResponderExcluirOi Ana Claudia, que bom que curtiu, obrigada!
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