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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Camboja - Siem Reap, 1º dia: Chegada, visto, primeiras impressões


20 de dezembro de 2013. Estava em Bangkok, levantei as 5 da manhã, fiz check out no hostel e peguei um taxi para o aeroporto de Don Mueang. A decisão de ir de avião ao Camboja foi algo inesperado, de última hora. Eu havia planejado meu roteiro cruzando a fronteira por terra, pegando um trem até a estação Aranyaprathet, na fronteira da Tailândia com o Camboja e de lá tuk tuk até Poipet, e depois ônibus ou van para Siem Reap. Porém, considerando relatos acerca daquele trajeto bem como alguns imprevistos que ocorreram em última hora decidi por bem ir até o aeroporto e tentar embarcar no primeiro vôo, e vou explicar porque.


Desde o dia em que eu comprei minha passagem de avião para a Tailândia, havia conhecido no site mochileiros.com.br o André, um mineiro pra lá de engraçado que estava com a passagem comprada para a mesma época que eu. Como tínhamos objetivos e gostos muito em comum e ambos viajavam sozinhos, acabamos por montar quase todo o roteiro da viagem juntos, assim poderíamos dividir vários gastos saindo mais em conta para ambos. Eu havia lido vários relatos de mochileiros alertando a todos que decidem cruzar a fronteira Tailândia-Camboja por terra, dizendo o quanto era perigoso, que haviam 80% de chances ou mais de qualquer viajante bem informado cair em um dos inúmeros golpes aplicados pelos locais e, inclusive, pela própria polícia cambojana corrupta. Havia conhecido pela internet também uma menina que fez todo esse trajeto e me aconselhou veementemente a NÃO fazer esse percurso sozinha, em hipótese alguma. Ok, eu já tinha entendido o recado e por conta disso havia combinado que esperaria o André chegar em Bangkok, e de lá cruzaríamos a fronteira por terra juntos assim os riscos diminuiriam e não cairíamos em nenhuma roubada. Perfeito. Enquanto eu chegaria em Bangkok no dia 17.12, o André chegaria na noite do dia 18.12, conheceríamos os templos principais no dia 19 e partiríamos para o Camboja no trem das 6 da manhã do dia 20. Chegando lá, visitaríamos o Angkor Wat no dia 21 e dia 22 cedinho voltaríamos a Bangkok, pois neste dia tínhamos um vôo as 20 hs para Krabi, que compramos em uma promoção da Air Asia (falarei melhor no próximo post). Desta forma, planejamos nosso roteiro milimetricamente montado para fazer tudo que queríamos, sem contar com margem de erros ou atrasos muito longos (claro, mochileiros de primeira viagem). Resumo da ópera: o André teve um do seus vôos de conexões cancelados, ficou preso em Milão, e só chegaria em Bangkok no dia 20.12, de noite.

Esperar o André chegar não seria possível pois eu teria que estar em Bangkok dia 22.12 para não perder o vôo para Krabi. Eu tinha 4 opções: 1- não ir ao Camboja (hipótese descartada); 2- deixar para ir ao Camboja no final da viagem, o que implicaria em sacrificar meus roteiros pelas Ilhas Phi Phi, Phan Gan e Koh Tao (hipótese também descartada) 3- atravessava a fronteira sozinha, mesmo sabendo dos altíssimos riscos e perigos já relatados por outros mochileiros (sem exageros, não sei se foi falta de sorte, mas os relatos que li davam medo de verdade); 4- teria que tirar o escorpião do bolso e desembolsar uma quantia não prevista no orçamento da viagem para custear uma passagem de avião até Siem Reap.


Considerando os pesos e as medidas, decidi por bem ir pela maneira menos roots e mais cara, pois era a que melhor se adequava àquela situação em que me vi. Depois que saí do Camboja, conheci muita gente que havia feito aquele trajeto por si só (inclusive mulheres) e disseram que não tem nada de perigoso. Enfim, como eu mencionei em outro post, planejar um roteiro é algo muito particular, as pessoas têm impressões e sensações muito diferentes dos lugares e situações, e você vai desenvolver sua habilidade de tomar decisões rápidas e se adaptar às mudanças de planos feitos durante meses. Não cruzei a fronteira por terra (ainda) então não tenho como afirmar o que é real e o que não é. Não me arrependo de ter gastado um pouco mais com o avião pensando em minha segurança. Mas a próxima vez que eu voltar lá irei por terra e contarei tudo aqui novamente =)
Cheguei no aeroporto de Don Mueang por volta das 6:30 da manhã, fui até o balcão da Air Asia e comprei uma passagem de ida e volta por aprox. 350 dólares já com as taxas inclusas. A Air Asia é uma cia. aérea local com preços muito acessíveis, muitas vezes valendo mais a pena comprar um vôo interno do que utilizar o ônibus convencional. Para se ter uma idéia, o vôo interno da Tailândia que comprei de Bangkok para Krabi, paguei 60 dólares já  com as taxas, comprando com 2 ou 3 meses de antecedência (depois farei um post somente com dicas para quem pretende viajar com essa cia). Ademais , mesmo comprando na hora um vôo internacional de ida e volta por aprox. 900 reais com as taxas inclusas, não achei um valor tão absurdo se analisarmos e compararmos aos preços aos quais estamos acostumados aqui no Brasil, nas mesmas condições.

Pois bem, cheguei no aeroporto de Siem Reap por volta do meio dia e me dirigi à fila para tirar o visto cambojano que é obtido na hora pelo valor de 20 dólares + 1 foto 3x4. Ops, cadê a maldita foto 3x4 que tanto avisaram para não esquecer e eu havia guardado com tanto zelo? Sumiu. Por um instante me bateu um frio na espinha e um indício de medo de pensar em perder a viagem por causa de uma maldita foto. Mas para minha alegria, os que não levam foto podem pagar na hora a quantia de 1 dólar e pegar o visto normalmente. Ufa! Visto na mão, e Camboja aos meus pés, eba!!


(Visto do Camboja em meu passaporte)

Primeira dica valiosíssima cambojana: NÃO troque seus dólares por riels! Em Siem Reap o dólar é perfeitamente aceito e muito mais valorizado que a própria moeda local, o riel. Eu não sabia disso, ainda no aeroporto peguei 380 mil riels e não consegui usar e trocar tudo, acabei ficando com várias notas de “recordação”. Peguei um tuk tuk até o meu hostel que ficava próximo a  Pub Street pelo valor de 2 dólares. Já dentro do tuk tuk e logo na saída do aeroporto me deparei com o primeiro cenário cambojano que me fez pedir para o motorista parar para que eu pudesse observar por alguns instantes. Um canal coberto por flores de lótus rosadas que brotavam de dentro da água negra e desabrochavam em uma gama de cores exuberantes. Acho que exagero um pouco quando falo das flores de lótus, mas elas são uma paixão de infância minha, e nessa viagem foi a primeira vez que eu as vi de perto.


(Flores de lótus)

(Canal com flores de lótus)

Saindo da área do aeroporto e percorrendo as primeiras partes da cidade, notam-se rapidamente os vestígios de um país devastado por uma guerra e de um povo que ainda não conseguiu se reerguer. Para você que viaja a um local para ver cenários paradisíacos e espera encontrar tudo bonitinho e limpinho, esqueça o Camboja. O local é realmente trash e se você não estiver de coração e alma aberta nem tiver tato para olhar além do que se vê e compreender o que aquele lugar e povo tem a ensinar, você não vai gostar de lá.

(No tuk tuk a caminho do hostel)

Eu havia feito a reserva no hostel Villa Um Theara pelo booking.com para 2 pessoas. Super recomendo esse lugar para se hospedar e arrisco dizer que foi o melhor hostel da viagem. Não é um hostel badalado, é um ambiente calmo e familiar, mas o quarto era enorme com 2 camas de casal macias e gigantes, chuveiro quentinho, TV, piscina e café da manhã bem servido pelo valor de 35 dólares a diária do quarto (17,5 por pessoa). Os funcionários eram super amigáveis e se esforçavam bastante para me entender e me passar informações. E mesmo com toda a simpatia e boa vontade, foi ali que me bateu o medo da comunicação. Até então eu achava terrível o sotaque dos tailandeses ao tentarem falar em inglês, mas o sotaque cambojano é simplesmente desesperador. Desista, se você não é expert em inglês você não vai entender quase nada que não seja escrito ou desenhado. Confie no jogo da adivinhação, ande sempre com uma calculadora em mãos e seja feliz. No final vai dar certo, quase sempre. Hahaha. Deixei minhas malas troquei de roupa, vi que a pub street e o centrinho badalado da cidade ficavam somente a 7 minutos de caminhada dali e resolvi ir até lá.

E aqui foi quando bateu o primeiro medo da viagem e o Camboja começou a me assustar. O tailandês é receptivo por natureza e a grande maioria é muito carismática. O cambojano é diferente. Não que ele não vá ser receptivo ou carismático com você, mas ele vai te analisar muito primeiro. Na primeira impressão, o olhar deles não me pareceu nem um pouco agradável. Acredito que seja por conta da desconfiança nata presente em cada uma daquelas pessoas, algo completamente compreensível para um país que fora completamente devastado há 30 anos atrás, e que teve boa parte de sua população exterminada. Um país que, aliás, abriga até hoje minas ativas em seu território, onde você caminha pelas ruas e em cada esquina vê grande quantidade de pessoas cegas, sem braço, sem perna ou com alguma deficiência física. Caminhei não mais que 2 quadras e decidi dar meia volta e retornar ao hotel. Me senti desconfortável, um verdadeiro ET. Não havia um cambojano que passasse por mim e não me olhasse com um ar um tanto quanto esquisito. Muitos homens me fitavam e mexiam comigo, mas não era por simples curiosidade. Uma mesma moto com 2 homens com capacete completamente escuro e fechado passaram por mim 2 vezes. Posso sim ter interpretado errado e talvez exagerado na dose de cautela, e acho muito provável isso ter acontecido. Para ser sincera, eu não consegui entender muito bem o povo cambojano nem decifrar muitas coisas daquele país, em razão do curto tempo em que estive por lá. Porém, tive a certeza de que ainda tenho muita coisa a aprender com eles, junto com uma sensação de missão não cumprida, o que me faz ter uma vontade maior ainda de voltar lá e poder ficar mais tempo. Enfim, se eu tivesse com mais alguém não teria dado muita bola, mas por estar sozinha meu alarme instintivo apitou e eu resolvi pecar pelo excesso de precaução do que pela falta. Retornei ao hostel sem pensar duas vezes, e lá peguei um tuk tuk que me deixou na Pub Street pelo valor e 1 dólar.


A Pub Street é uma rua toda charmosa e cheia de opções de restaurantes e lojinhas. Um lugar que me ganhou à primeira vista e me fez esquecer por hora daquela sensação de insegurança de poucos minutos atrás. Não sei se é assim o ano todo, mas no dia em que eu estava lá ela estava toda decorada com guarda-chuvas amarelos que atribuíam charme e alegria ao local. Por incrível que pareça para alguns, é possível encontrar circulando por alí uma grande quantidade de turistas de todo o mundo, especialmente europeus. Almocei em um dos muitos restaurantes da Pub Street, e pedi um suco de laranja e um Amok, prato típico cambojano (herança Khmer) feito com peixe ou frango no molho de leite de côco com curry e pimenta. Um tanto quanto diferente, saboroso e interessante. Porém me enjoei rápido e não consegui comer até o final. Mas vale a pena. Era uma tarde de verão quente e gostosa. Passei alguns instantes ali me refrescando com aquele suco de laranja geladinho enquanto olhava aquele cenário que eu jamais havia visto igual. Um povo que, apesar de tanto sofrimento, ainda encontrava motivos para sorrir dentro de um olhar sincero, e tornar belo e único um local simples e tão devastado.
 (Amok de Frango)

Segui mais adiante e encontrei algumas lojinhas onde haviam lenços de seda por 4 dólares e acabei garantindo as lembrancinhas das minhas primas. Reserve uma tarde para andar pelo local e por todas as ruazinhas do centro de Siem Reap, é mais que suficiente. Você encontrará massagens a preços tentadores, inclusive aquela massagem em que você coloca os pés em um tanque com milhares de peixinhos minúsculos que fazem uma “esfoliação” levando embora as camadas de pele morta das suas pernas. Não vi muita graça, mas é algo diferente para quem curte.

Perto dali encontrei o famoso Old Market, principal motivo pelo qual você deve deixar Siem Reap para o final da sua viagem. O Old Market sem dúvidas foi o melhor local para compras em toda a viagem. Com bastante pechincha você consegue estatuetas de Apsaras em metal, madeira ou pedra, réplicas do Angkor Wat, jóias, lenços de seda, camisetas e tudo de mais lindo e maravilhoso a um precinho bem camarada. Tive que comprar um mala de rodinhas para levar embora tudo que comprei no Camboja, especialmente neste mercado. Alías, no Old Market vc encontra de tudo, mas tudo mesmo. Primeiramente passei pela seção de laticínios onde haviam pedações de carne de porco e peixes expostos por toda a parte, exalando um cheiro de carniça absurdamente terrível. Até as camisetas que comprei lá vieram pra casa com o cheiro da carniça que habita o local. Limpeza e saneamento básico são coisas realmente precárias no país. Vá de espírito preparado a não se apegar nisso, pois do contrário você deixará de aproveitar a viagem. Mas calma, não é em todo o Old Market que o cheiro é tão terrível. Ele vai ficando suportável em algumas partes e você poderá fazer suas compras tranquilamente hehehe.

 (Old Market)

 (Rua do Old Market)

(Apsara decorativa em madeira que comprei no Old Market)


O centrinho de Siem Reap é muito agradável e super tranquilo. Mas se você estiver na mesma situação que eu, mulher e sozinha, não aconselho a caminhar muito além dali nem percorrer as ruas mais vazias da cidade. Caminhei por lá tranquilamente até o cair da noite, quando retornei ao meu hostel para tomar um banho quente e procurar algo para comer.

A poucos metros do meu hostel encontrei o Viroths, um restaurante simplesmente maravilhoso, tanto no ambiente quanto na comida. Decoração rústica, de madeira, bambu e plantas, e luminárias coloridas tornando o ambiente interno charmoso, além de luzes de velas e incensos na área externa das árvores e plantas, que traziam um clima completamente especial àquela noite. O cheiro suave e amadeirado daquele incenso cambojano era tão delicioso e marcante, que parecia que havia sido feito especialmente para aquele lugar. Uma mistura que lembrava floral, ervas e sândalo.  Acho que foi o jantar mais romântico que já tive em minha vida. Um romance meu comigo mesma, e a satisfação que eu sentia em cada escolha que eu havia feito para chegar até ali. A gratidão tomou conta, seguida da plenitude. Acho que eu nunca havia me sentido tão bem debaixo da minha própria pele.

(Jantar maravilhoso no Viroths)

Pedi uma taça de champagne e um escalope de vieira ao molho pesto, que veio acompanhado de arroz e amendoim com ervas finas de entrada (tudo por 10 dólares) e fiquei ali apreciando cada pedacinho daquela noite quente e deliciosa, recheada também com a ansiedade pelo espetáculo que estava por vir no dia seguinte: Angkor Wat.

Espero ter ajudado,

Abraço =)

2 comentários:

  1. Pauline, estou apaixonado pelo seu blog! Quantos relatos lindos! Parabéns!

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    1. Oi Wander!

      Que bom que curtiu, obrigada! Estou produzindo novos relatos, fique de olho pois em breve terá novidades aqui no blog!

      Abraço.

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